São diversas as teorias de evolução da história da humanidade.
Alguns defendem que a história é regida por fatos lineares
planejados por Deus como preconizava Santo Agostinho (350-430),
fatos estes que teriam desenvolvimento em uma linha secular de
evolução até alcançar um certo estágio ou ponto final que
culminaria com o assustador Juízo Final pregado por grande parte das
religiões mundo afora. Voltaire (1694-1778) seguiu a mesma
linha de raciocínio de Santo Agostinho, eliminando as interferências
religiosas, afirmando que a evolução humana ocorre em estágios de
conhecimento, fato que Karl Marx (1818-1883) destacou de outra
forma, como uma evolução na luta de classes que levaria a ditadura
da classe trabalhadora, alcançando um estágio de comunismo puro.
Em outra vertente ainda mais antiga, os pensadores gregos Heródoto
(o Pai da História, 484-424 AC) e
Tucídedes (460-404 AC) defendiam que a evolução da humanidade
ocorria de acordo com ciclos que se repetiam ao longo dos tempos, sem
a influência dos homens. Maquiavel (1469-1527) defendia os
ciclos de evolução, destacando que os ciclos eram o resultado de
estratégias políticas e analisando as eleições de 2014 para
presidente da República começo a ver as ideias de Maquiavel de
forma mais clara.
Se retornarmos ao Brasil de 1930, vamos encontrar o estado de Minas
Gerais liderando, em conjunto com o Rio Grande do Sul e a
Paraíba, uma revolta armada que culmina com o golpe de Estado que
depôs Washington Luís impedindo a posse de Júlio Prestes e dando
um fim a política do café-com-leite. O fato que poucos
mencionam é que um dos motivos que mais influenciou na derrubada do
Governo foi a Grande Depressão de 1929 que atingia em cheio os
preços do café no Brasil, gerando uma crise econômica de grande
impacto na sociedade. Para aumentar ainda mais o descontentamento de
São Paulo, Getúlio Vargas nomeia João Alberto Lins de Barros como
interventor do Estado, tratado pelos paulistas como “O
pernambucano” ou como o “forasteiro e plebeu”.
São Paulo era tratado pelo Governo Federal como “terra
conquistada” governado por tenentes de outros estados devido ao
fato de Getúlio Vargas ter tido apenas 10% dos votos paulistas
contra os 90% de votos dados ao candidato Júlio Prestes nas eleições
de 1930. Com a morte de 5 jovens no centro de São Paulo, no dia 23
de maio de 1932, explode a revolta paulista. A Revolução
Constitucionalista era a luta entre duas ideias de democracia que
vigoravam no Brasil naquele momento: Democracia Social e
Democracia Liberal. A Democracia Liberal, de acordo com Getúlio
Vargas, era uma enganação para manter a oligarquia no poder,
enquanto a Democracia Social era considerada caso de polícia como
mencionado por Washington Luís - “A agitação operária é
uma questão que interessa mais à ordem pública do que à ordem
social, representa o estado de espírito de alguns operários, mas
não de toda a sociedade!”.
Com esse clima de revolta, no dia 9 de julho de 1932 inicia-se o
levante revolucionário, com os paulistas acreditando ter o apoio de
outros estados, principalmente Minas Gerais.
Porém, a traição de Minas
Gerais e Rio Grande do Sul, que se mantiveram ao lado de Getúlio
Vargas, São Paulo de viu sozinho em uma luta desigual que durou 87
dias, levando o estado
paulista a se render frente a desigualdade. Apesar da derrota
militar, os paulistas conseguiram uma vitória moral que levou as
eleições de 1933, tendo como uma das principais conquistas, o voto
feminino pela primeira vez na história do Brasil, criando um clima
de reconstitucionalização do país, culminando com a Constituição
de 1934.
Hoje,
em 2014, assistimos os mesmos fatos, com novos personagens e novas
armas,
mas a história é assustadoramente semelhante. As eleições
dividiram o Brasil entre oligarcas e operários, entre ricos e
pobres, tendo um “pernambucano”
como ator central e uma disputa entre democracia social e democracia
liberal, tendo como pano de fundo a situação econômica brasileira.
A face mais intrigante desta história renovada e cíclica é o papel
de Minas Gerais, novamente sendo o elemento que defini o futuro
brasileiro. Em 1932, a traição contra os paulistas levou a uma
derrota que gerou um fruto maior, a redemocratização do país. E
agora Minas Gerais opta por apoiar a democracia social
em detrimento da democracia liberal, mantendo o mesmo alinhamento do
passado, repetindo as escolhas e a história. A
história é ou não é
cíclica? Repetimos ou não os erros e acertos do passado? Vale uma
reflexão mais profunda sobre a evolução de humanidade!