A palavra
da moda é “legado”, que segundo o dicionário Michaelis é a “disposição, a título gracioso, por via da
qual uma pessoa confia à outra, em testamento, um determinado benefício, de
natureza patrimonial; doação “causa-mortis””, ou ainda “língua, costumes e tradições que passam de
uma a outra geração”.
Logo
poderíamos entender “legado” como algo ou alguma coisa que nos é deixado por
algo ou alguém quando de seu término ou partida, como por exemplo, em um
relacionamento entre duas pessoas, que mesmo às vezes não desejando, após o
rompimento, deixamos algo e também levamos conosco novos costumes ou em alguns
casos os bens (brincadeirinha).
Esta
palavra tem sido proclamada em prosa e verso há pelo menos 5 anos em todos os
cantos do Brasil em virtude, claro, dos recentes eventos esportivos da Copa do
Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. O governo federal, em
uma jogada de marketing avassaladora, como tem sido na grande maioria das
cidades também, nos bombardeou de notícias sobre o “grande legado” que tais
eventos estariam proporcionando ao povo brasileiro, e como bom observador da
gestão pública brasileira que sou eu me aprofundei um pouco mais no assunto “legado”
e mais uma vez vai me faltar Rivotril ou Diazepam, pois é escandaloso o que
estamos assistindo no Brasil.
O marketing
político está sendo utilizado por nossos egrégios representantes como arma de
manipulação de massa e não como ferramenta informativa. São gastos bilhões de
reais por ano com publicidade e propaganda por parte de prefeitos, governadores
e poder federal, visando ludibriar a população com mentiras absurdas.
O mais
assustador é voltar agora, por exemplo, aos estudos divulgados pela Ernst &
Young e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e constatar que projetavam a injeção
de mais de R$ 140 bilhões na economia brasileira e uma geração de mais de 3
milhões de empregos para a preparação da Copa de 2014, além de garantir a
melhoria dos instrumentos públicos (melhor transporte público e melhor mobilidade
urbana entre outros) nas cidades sede, mas o que ficou constatado foi uma total
falta de capacidade de planejamento e de gestão dos projetos (principalmente na
fase de execução), que em sua maioria ainda continuam com as obras totalmente paralisadas.
São
visíveis os atrasos nas obras em Cuiabá, que de 82 obras previstas inicialmente
e revistas posteriormente para 44, só foram entregues 24 obras no prazo e as
outras 20 obras restantes ainda não ficaram prontas, mesmo a Copa já tendo sido
finalizada há mais de um ano. Outro escândalo foi o desabamento do viaduto de
Guararapes em Belo Horizonte, que se desmanchou matando várias pessoas, ou Fortaleza
que possuía 6 obras previstas e não entregou nenhuma até este momento, ou ainda
Curitiba que possuía 10 obras previstas e só entregou 2. Em Recife não é
diferente, de 7 obras previstas apenas 3 foram entregues, deixando a população
da pequena São Lourenço da Mata (que conheço bem) sonhando em ter a tão esperada
e divulgada Cidade da Copa.
Agora
estamos às vésperas das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e o tal “legado”
está mais forte do que nunca e novamente na boca do povão e mais uma vez estamos
próximos do mesmo resultado de 2014, ou seja, mais um vexame divulgado para o
mundo todo e que desta vez estar cheirando muito mal.
Especialistas
sopram as trombetas anunciando “legados” de mais de R$ 37 bilhões na capital da
Petrobrás, mas algo não cheira bem na Corte de Dona Maria I. A capital do reino
está demonstrando a todo o mundo a sua incapacidade em despoluir a Baía de Guanabara
que já afundou R$ 10 bilhões e ainda querem os especialistas afogar mais R$ 20
bilhões alegando que são necessários mais 15 anos de trabalho, que sabemos
muito bem, pela experiência do rio Pinheiros em São Paulo, não serem
suficientes em face dos excelentes gestores públicos que possuímos no Brasil.
Apanhar de
7 a 1 da Alemanha já deveria ter sido o suficiente para revermos nossos
conceitos de eficiência, eficácia e efetividade em diversos setores da sociedade
tupiniquim, mas ainda continuamos deitados em berço esplêndido à espera de
melhoria, mas a notícia que trago é um pouco desconfortável. O Legado conjunto,
Copa do Mundo – Olimpíadas, que estamos deixando, conforme Michaelis, a título
gracioso, para as próximas gerações é a tradição de excelentes planejadores e
péssimos executores.
Pense nisso
!!!