A humanidade chegou a um ponto
evolutivo onde as crianças das grandes cidades acreditam piamente
que a água nasce dentro de uma garrafa ou saem de uma represa e
chegam nas torneiras graças a água da chuva. Coitado de São Pedro!
Eles realmente acreditam que se não chover vai faltar água.
A culpa disso é dos nossos grandes
especialistas que venho acompanhando em entrevistas diárias nos mais
variados meios de comunicação. Venho assistindo especialistas,
políticos, professores universitários, meteorologistas e outros,
afirmarem que as formas para se amenizar a atual falta de água é o
racionamento, o desvios de cursos de alguns rios, a interligação de
represas e reservatórios, a adoção de políticas de reuso de água,
a criação de novas formas de distribuição e até a contratação
de índios especializados na dança da chuva.
Hoje mesmo assistindo um telejornal,
vi uma jornalista muito bem conceituada dar um puxão de orelha a um
integrante da Agência Nacional de Águas – a ANA, perguntando a
ele se estávamos somente nas mãos de São Pedro e a resposta me
surpreendeu de tal forma que não resisti e me sentei para escrever
este texto, pois o representante do governo federal disse que “sim”
e também deu a entender que a culpa pela atual situação de falta
de água se deve, além da falta de chuvas, a uma falta de
planejamento de longo prazo que evitaria a atual situação crítica
em várias regiões brasileiras.
Mas o que mais me incomoda e me deixa
ainda mais assustado nesse cenário é o total silêncio de todos os
ditos “especialistas” em água que simplesmente não dizem a
verdade aos brasileiros. A verdade é que as grandes empresas
agropecuárias e extrativistas vem há anos eliminando as nascentes
para a ampliação das áreas de plantio e pastagem.
A região do nordeste paulista é um
exemplo muito claro desse crime ambiental, que foi cometido no
passado, mais precisamente entre os anos de 1911 e 2012, quando as
usinas de açúcar e álcool simplesmente aterraram incontáveis
nascentes para aproveitar a maior parte possível das terras
arrendadas dos sitiantes e fazendeiros que viram na monocultura da
cana-de-açúcar a solução para trabalhar menos e ganhar mais.
Outro ramo que adota a mesma
estratégia são os cultivos de milho e soja que necessitam de
grandes extensões de terras para obterem lucros significativos. Até
as áreas utilizadas para o plantio de eucaliptos podem estar
contribuindo para a morte de diversas nascentes, mesmo alguns
“especialistas” garantindo que o eucalipto não retira muita água
do solo, fato que preciso estudar mais detalhadamente. A falta de
água não deve ser creditada na conta de São Pedro, como muitos
políticos insistem em tentar fazê-lo, mas sim na conta da ganância
financeira de todos os “especialistas” que escondem da grande
maioria da população os reais fatores que levou as nossas cidades a
estarem sofrendo com a falta aguda de água potável.
Os brasileiros ainda não entenderam
que não existe mais espaço para discursos de justificativas. O
momento é para pessoas sérias e competentes e não devemos esperar
soluções inteligentes e definitivas de políticos e empresas que
apenas visam lucro e crescimento pessoal. Água é elemento essencial
a vida e não deve ficar na mão de amadores e contadores de
histórias. O assunto é sério demais para deixarmos na conta de São
Pedro, por mais que possamos ter fé. Não é a falta de chuvas que
está acabando com nossas águas. O desmatamento dos sítios de
nossos avós é que estão eliminando as nossas fontes de geração
de água. Faça um teste: Plante algumas árvores no fundo de sua
casa e veja como a umidade do solo muda!
Pense nisso!!!