domingo, 7 de setembro de 2014

PRETO POBRE, POBRE PRETO !!!

Aos 192 anos da Independência do Brasil, que culminou com a nossa emancipação “política” de Portugal, não temos muito a comemorar. Somos uma nação, é verdade, mas nada independente em inúmeros assuntos. Ainda não aprendemos a caminhar sozinhos. Estamos imitando nossos antepassados e outras nações em quase tudo. Somos uma nação de personalidade pobre e imatura. Para todos os lados que olhamos estamos sofrendo influências negativas, que adotamos como nossas de maneira inconsciente e ainda nos vangloriamos de ser uma nação livre e moderna, mas será que realmente somos?


Pelo menos em um ponto ainda carregamos a herança maldita adquirida mesmo antes da chegada dos portugueses. Estou me referindo a escravidão, que muitos aprenderam nos acentos escolares ser uma prática portuguesa, mas que na verdade já ocorria entre os indígenas e só foi apropriada pelos colonizadores, que até condecoravam alguns líderes indígenas com o título de “Dom”, que passavam a ser verdadeiros nobres do Rei de Portugal. Não pretendo aqui enumerar as cruéis e desumanas formas de castigos e humilhações que tupinambás, tapuias, portugueses e espanhóis praticavam em terras brasileiras de forma oficial até o famoso dia 13 de maio de 1.888, onde, pelo menos no papel, declaramos “nossos” negros livres.


Transcorridos 126 anos da Lei Áurea, continuamos assistindo claras e cada vez mais agressivas manifestações da mais pura crueldade herdada de nossos antepassados indígenas e europeus. Assistir a uma “menina” imatura de 23 anos gritando a plenos pulmões a palavra “macaco” em frente a várias câmeras e com os olhos brilhantes de tanta raiva e intolerância só reforça como estamos educando nossas crianças. Tal fúria me trouxe lembranças pessoais.

Me lembrei perfeitamente de um fato ocorrido comigo no ano de 2.002, onde fui chamado de “pretinho pobre” semanas antes de uma data que não cabe a mim detalhar neste momento, mas que cabe sim, expressar o sentimento que percorreu minhas veias e mente. Entendi exatamente o que o goleiro Aranha sentiu. Uma mistura de revolta e uma sensação de impotência que nos deixa descrente da raça humana. Estamos vivendo no Brasil, um momento da história onde, num futuro muito distante, teremos vergonha de descrever. A intolerância não é só em relação a cor da pele, mas também em relação a nossas crenças religiosas, a orientação sexual e a classe social.

Nossa involução é tamanha que já copiamos a intolerância religiosa, algo até então inédito no Brasil. Nunca antes assistimos tantas igrejas tendo suas imagens religiosas sendo destruídas por ditos “cristãos”, tema que deveríamos começar a estudar nas universidades pois, não é possível ainda estarmos dependentes de tanta imaturidade e raiva. Temos raiva dos negros, dos católicos, dos homossexuais e dos pobres. Se as grandes fortunas no Brasil está nas mãos de 1% da população, porque os 99% restantes se julgam no direito de serem superiores em algo? Quem lhes concedeu o título de “Dom”? Somos um país de terceiro mundo e vivemos de migalhas tecnológicas das grandes potências! Ter um carro de R$ 100 mil ou uma casa de R$ 1 milhão não te dá o direito de agredir o favelado, mas só mostra o quanto se é dependente de autoafirmação.



Ser “classe média” no Brasil é o mesmo que ser favelado na Europa. O valor do dinheiro muda em cada esquina do mundo, mas o caráter, o respeito ao próximo e a dignidade são universais. Pense nisso. Não é a cor dos olhos, da pele ou o dinheiro que possuímos nossos maiores bens.

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