segunda-feira, 27 de outubro de 2014

BRASIL 1932 : 2014 – A HISTÓRIA SE REPETE

São diversas as teorias de evolução da história da humanidade. Alguns defendem que a história é regida por fatos lineares planejados por Deus como preconizava Santo Agostinho (350-430), fatos estes que teriam desenvolvimento em uma linha secular de evolução até alcançar um certo estágio ou ponto final que culminaria com o assustador Juízo Final pregado por grande parte das religiões mundo afora. Voltaire (1694-1778) seguiu a mesma linha de raciocínio de Santo Agostinho, eliminando as interferências religiosas, afirmando que a evolução humana ocorre em estágios de conhecimento, fato que Karl Marx (1818-1883) destacou de outra forma, como uma evolução na luta de classes que levaria a ditadura da classe trabalhadora, alcançando um estágio de comunismo puro.

Em outra vertente ainda mais antiga, os pensadores gregos Heródoto (o Pai da História, 484-424 AC) e Tucídedes (460-404 AC) defendiam que a evolução da humanidade ocorria de acordo com ciclos que se repetiam ao longo dos tempos, sem a influência dos homens. Maquiavel (1469-1527) defendia os ciclos de evolução, destacando que os ciclos eram o resultado de estratégias políticas e analisando as eleições de 2014 para presidente da República começo a ver as ideias de Maquiavel de forma mais clara.


Se retornarmos ao Brasil de 1930, vamos encontrar o estado de Minas Gerais liderando, em conjunto com o Rio Grande do Sul e a Paraíba, uma revolta armada que culmina com o golpe de Estado que depôs Washington Luís impedindo a posse de Júlio Prestes e dando um fim a política do café-com-leite. O fato que poucos mencionam é que um dos motivos que mais influenciou na derrubada do Governo foi a Grande Depressão de 1929 que atingia em cheio os preços do café no Brasil, gerando uma crise econômica de grande impacto na sociedade. Para aumentar ainda mais o descontentamento de São Paulo, Getúlio Vargas nomeia João Alberto Lins de Barros como interventor do Estado, tratado pelos paulistas como “O pernambucano” ou como o “forasteiro e plebeu”.

São Paulo era tratado pelo Governo Federal como “terra conquistada” governado por tenentes de outros estados devido ao fato de Getúlio Vargas ter tido apenas 10% dos votos paulistas contra os 90% de votos dados ao candidato Júlio Prestes nas eleições de 1930. Com a morte de 5 jovens no centro de São Paulo, no dia 23 de maio de 1932, explode a revolta paulista. A Revolução Constitucionalista era a luta entre duas ideias de democracia que vigoravam no Brasil naquele momento: Democracia Social e Democracia Liberal. A Democracia Liberal, de acordo com Getúlio Vargas, era uma enganação para manter a oligarquia no poder, enquanto a Democracia Social era considerada caso de polícia como mencionado por Washington Luís - “A agitação operária é uma questão que interessa mais à ordem pública do que à ordem social, representa o estado de espírito de alguns operários, mas não de toda a sociedade!”.

Com esse clima de revolta, no dia 9 de julho de 1932 inicia-se o levante revolucionário, com os paulistas acreditando ter o apoio de outros estados, principalmente Minas Gerais. Porém, a traição de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que se mantiveram ao lado de Getúlio Vargas, São Paulo de viu sozinho em uma luta desigual que durou 87 dias, levando o estado paulista a se render frente a desigualdade. Apesar da derrota militar, os paulistas conseguiram uma vitória moral que levou as eleições de 1933, tendo como uma das principais conquistas, o voto feminino pela primeira vez na história do Brasil, criando um clima de reconstitucionalização do país, culminando com a Constituição de 1934.


Hoje, em 2014, assistimos os mesmos fatos, com novos personagens e novas armas, mas a história é assustadoramente semelhante. As eleições dividiram o Brasil entre oligarcas e operários, entre ricos e pobres, tendo um pernambucano como ator central e uma disputa entre democracia social e democracia liberal, tendo como pano de fundo a situação econômica brasileira. A face mais intrigante desta história renovada e cíclica é o papel de Minas Gerais, novamente sendo o elemento que defini o futuro brasileiro. Em 1932, a traição contra os paulistas levou a uma derrota que gerou um fruto maior, a redemocratização do país. E agora Minas Gerais opta por apoiar a democracia social em detrimento da democracia liberal, mantendo o mesmo alinhamento do passado, repetindo as escolhas e a história. A história é ou não é cíclica? Repetimos ou não os erros e acertos do passado? Vale uma reflexão mais profunda sobre a evolução de humanidade!

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