Hoje acordei mais feliz do que o normal, talvez por estar
mais certo de minhas decisões futuras e podendo enxergar com mais clareza as
coisas que realmente valem a pena em nossas finitas vidas. Pesquisei em minhas
estantes e acabei encontrando exatamente a música que eu gostaria de ouvir neste
momento – Tocando em Frente – de Almir Sater, que começa já dizendo o mais
importante para mim que é “Ando devagar porque já tive pressa...” e foi ai que
me atentei para a atitude mais comum que podemos identificar atualmente na
imensa maioria dos seres humanos – a PRESSA.
Você já reparou como atualmente todos estão sempre com
pressa? Já notou como todos nós estamos sempre tentando demonstrar aos mais
próximos o quanto somos atarefados e cheios de compromisso? Acredito que a
maior conquista de minha vida tenha sido exatamente essa oportunidade que me
foi dada de parar por alguns minutos em algum local bem movimentado e conseguir
ver claramente o desespero generalizado. Lembrei-me imediatamente de um livro
que li há muito tempo intitulado “A Economia do Ócio – do sociólogo italiano Domenico
De Masi”, que agora recomendo fortemente a todos.
Vejo pessoas correndo de um lado para outro, sempre
atrasadas e com os olhos em alerta em busca de um objetivo ou compromisso que
muitas vezes nem elas mesmas sabem exatamente o que é. Minhas melhores cobaias
para estas observações são as pessoas próximas de mim ou aquelas pessoas que me
atendem em algum banco, em uma padaria, em uma loja de roupas, etc.
Estão tão obcecadas com suas rotinas sem se darem conta
disso. Recentemente necessitei de um atendimento mais específico em um órgão
público do governo federal localizado na cidade de Ituverava e após um
agendamento prévio me dirigi ao local indicado no dia e hora marcados para
tentar resolver um problema de cadastro extremamente simples que levaria no
máximo 10 minutos se a atendente se prestasse ao trabalho de olhar nos meus
olhos e me ouvir atentamente.
Porém, para minha constatação de que estamos realmente
correndo sem saber ao certo para onde, me deparei com mais uma clara
demonstração da loucura sem motivo de nossos tempos. O meu atendimento havia
sido agendado para as 12h20min e eu lá estava no horário marcado, sem ter a
necessidade de sair correndo para chegar no horário, é claro!
Assim que entrei no estabelecimento retirei minha senha e
me sentei a espera do meu momento. Lógico que não havia pessoas suficientes
para atender a todos que estava ali como eu, a espera da resolução de um
simples e pequeno problema. Após 1 hora, vendo os poucos funcionários deste
órgão federal andar de um lado para o outro, tomando café, fazendo reuniões e
trocando palavras com seus colegas, fui chamado para uma das baias de
atendimento.
Nem mesmo havia me sentado na cadeira quando já cumprimentei
a atendente com um “boa tarde” e de resposta ela me perguntou o que eu desejava
e assim que comecei a falar ela me interrompeu com uma pergunta que não levaria
a obtenção de nenhuma informação relevante para a resolução do meu problema.
Em seguida, me solicitou todos os documentos que estavam
na minha mão e com uma rapidez que me causou uma imensa inveja, decidiu que não
era possível a solução. Eu, pacientemente, voltei a minha tentativa em explicar
o meu problema e desta vez a atendente me interrompeu novamente e me disse que
talvez tivesse uma alternativa para resolver o meu problema. Levantou-se, foi
até um colega de trabalho, que acredito ser um superior hierárquico, e explicou
parcialmente meu problema, pois a pressa dela ainda não havia lhe dado à oportunidade
para compreender o meu caso em sua plenitude.
Voltou de posse de dois formulários e me pediu que
fizesse o preenchimento em um espaço ao lado enquanto ela “atendia” outra
pessoa segundo ela, para “aproveitar o tempo”. Calmamente me levantei de onde
estava e fui até o local indicado onde, após uma leitura breve dos formulários,
os preenchi por completo. Por sorte tenho alguma facilidade em ler e escrever,
mas e se fosse uma pessoa menos acostumada com formulários e burocracias?
Mas tudo bem, continuemos. Após terminar voltei à
atendente e entreguei os formulários e os documentos na exata ordem que me foi
solicitado. A atendente recolheu os documentos e me pedindo desculpas, anotou o
seu nome em um pedaço de papel rasgado e me entregou dizendo que no momento não
poderia resolver meu caso, mas que assim que tivesse acesso ao “sistema” faria as
alterações por mim solicitadas e que sem demora entraria em contato me
informando da resolução de meu problema.
Este atendimento ocorreu há um mês e até agora nenhum
sinal de fumaça ou de vida da atendente ou da solução do pequeno problema.
Espero que a atendente esteja bem e com saúde, pois com tamanha pressa ele pode
facilmente ter sofrido um AVC e eu nunca saberei. Apeguei-me a ela, vendo seu
sofrimento em não conseguir controlar seu tempo e rotina.
Não vou ter a indelicadeza de citar qual é este órgão
federal e muito menos o nome da atendente. Só fiz este pequeno relato para
demonstrar o modo como estamos vivendo, com pressa e sem qualidade de vida. Por
quê? Onde iremos chegar com esta maneira de viver? Certamente esta atendente
deve estar atolada em papéis que ela nem imagina de quem seja, mas volta para
sua casa todos os dias extremamente cansada e irritada com a sensação de que
trabalho muito, e provavelmente trabalhou mesmo, mas não gerou nada de bom,
nenhum resultado. Imaginem o tamanho deste sofrimento.
Imagine agora se eu também estivesse nesse redemoinho de
insensatez e voltasse a este órgão federal nervoso e pronto para a briga?
Pronto, estava instalada mais uma daquelas cenas degradantes de dois seres
humanos brigando sem razão e por um problema que poderíamos resolver em minutos.
Quem disse que para atender bem devemos correr e atropelar a todos? Quem disse
que devemos ser rápidos e não resolver as tarefas diárias a contento de nossos
clientes? Vejo com pena e certa tristeza no que estamos nos transformando.
Pessoas sem a mínima capacidade de ouvir o próximo e correndo em direção de sei
lá o que.
E você, corre o dia todo para chegar aonde mesmo?
Pense nisso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário